#08 – I am a hero

Muitas vezes temos uma ou mais pilha de livros, mangás, HQs, ou seja lá o que você gostar de ler, nos esperando para pegá-los e lê-los. Às vezes fico imaginando cada um dos livros, ou volume de algum quadrinho, toda vez que vamos até as pilhas escolher a próxima leitura, pulando e gritando: Escolhe-me! Escolhe-me!

Depois de um ser escolhido, imagino a decepção dos outros livros.

Acontece que, muitas vezes acabamos pulando os que estão na fila para ler alguma outra coisa que nos chamou a atenção, e foi isso o que aconteceu comigo quando fiquei sabendo sobre “I am a hero”. Ignorei a fila e comecei a ler esse mangá que o tema principal é sobre zumbis.

Zumbis de novo? Pois é… Gosto de histórias de zumbis. Estão na moda por conta de The walking dead, mas faz tempo que eles aparecem na tv, como em alguns filmes que já são considerados antigos. E a HQ de The walking dead é ótima. Mas I am a hero é bem diferente, embora seja sobre zumbis.

A história se passa no Japão nos tempos atuais e tem como protagonista Suzuki Hideo, um desenhista de mangá de 35 anos, que embora já tenha publicado uma serialização que terminou no segundo volume, não conseguiu publicar mais nada, para sua frustração. Trabalhando de assistente, Hideo vive falando sozinho e possui opiniões próprias, mas de longe é corajoso. Não tem nem coragem de conversar com sua namorada sobre coisas que ela fala que o incomoda. Principalmente se tratando de um ex-namorado dela.
Hideo é um personagem diferente do que estamos acostumados, talvez por ser bem humano e agir como uma pessoa de verdade, pois fica imaginando coisas, fazendo dancinhas no espelho (Uma delas lembra Sidney Magal, imagem ao lado). Não gosta de algumas pessoas de seu trabalho e fica reclamando para namorada sobre as coisas que acontecem por lá. E muitas vezes, pelo menos para mim, ele age de forma idiota, mas algumas vezes pode ser engraçado, dependendo da situação. Outras vezes ele pode agir de forma bem estranha. Cidadão consciente quanto aos seus direitos e as leis de seu país, isso gera algumas situações engraçadas, pois em meio ao caos que se encontra o Japão com os zumbis correndo atrás das pessoas e querendo mordê-las, Hideo tenta não infligir às leis. Sempre que vai fazer algo errado, ele pensa sobre as consequências que poderá acarretar, apesar da bagunça em que a cidade se encontra.

Como o leitor pôde perceber, acima foi descrito mais sobre o protagonista que sobre zumbis. Isso é o interessante desse mangá, o autor Kengo Hanazawa só apresenta, de fato, o primeiro zumbi no final do primeiro volume. Isso deve ser por volta do capitulo 10 ou 11. Mas durante todo o primeiro volume ele vai dando indícios de que algo estranho está acontecendo. Falando sobre pessoas doentes nos noticiários, pessoas agindo estranhamente após um acidente. De alguma forma ele vai mostrando para o leitor que tem algo mais além do que ele está lendo, basta prestar atenção em tudo.

Além disso, o primeiro volume apresenta profundamente o personagem principal e todos a sua volta, muito bom para história, pois isso causa certo impacto ao leitor nos acontecimentos seguintes, isso no final do primeiro volume e início do segundo volume.
Essa obra também, de certa maneira e nas entrelinhas, traz algumas críticas à sociedade, parte dessa crítica é específica à japonesa, e aos críticos de obras e trabalhos alheios sem mesmo tentar fazer algo melhor. Pode ser que outras críticas venham a aparecer, pois o autor está o tempo todo colocando observações sobre qualquer coisa, mas demonstrando o modo de pensar do protagonista. Isso mostra que não é apenas uma história de zumbis, é uma obra abrangente que embora tenha um foco, consegue desviar a atenção para outras coisas de forma sutil, mas inteligente da parte do autor.

Apesar de o traço ser um pouco diferente, o que é ótimo, a arte é excelente e combina com a história.  De qualquer forma gostei muito dos desenhos, são detalhistas, e a forma como desenha as posições dos zumbis são bem medonhas e interessantes. No geral eles ficam andando pela cidade, ou correndo atrás de pessoas para mordê-las.

Outra coisa diferente nesse mangá de zumbis, apesar de a pessoa ser infectada através da mordida, é que os monstrengos mortos vivos parece lembrarem-se das coisas, mesmo depois de terem se tornado zumbis, além deles terem muita agilidade e correrem muito.

Esse mangá seinen de 2009 está por volta do seu 15º volume no Japão e continua em publicação pela Big Comic Spirits da editora Shogakukan. Não sei se por se tratar de uma publicação da Big Comic, mas é um material bem desenvolvido, com bastante coisa a ser discernida pelo leitor. É uma leitura bastante empolgante e recomendadíssima, embora no começo as coisas pareçam acontecer devagar.

Quem sabe um material como esse apareça por aqui, o que acho difícil pelo número de volumes que ele já possui e ainda não ter um final. Mas Monster e 20th Century Boys também seguem uma linha madura e possuem mais que 15 volumes, embora já finalizadas.

Para quem tiver curiosidade outros trabalhos anteriores a esse do autor de 41 anos: Ressentiment e Boys on the run.

Até mais.